Autor: Afonso Lopes Vieira
Apresentação: Manuel Villaverde Cabral e Mário de Carvalho
Local: Biblioteca da Imprensa Nacional (Lisboa)
Data: quarta-feira - 29 de JUNHO
Horário: 18:00h
Entrada gratuita limitada à capacidade da sala.
Marques não era Marques: — era Marcos. Mas toda a gente lhe chamava Marques!
Marcos sofrera com salivações amargosas na boca esta corrupção do seu nome, e com uma vontade de lhes bater, neles — a quem ninguém estragava os nomes.
Mas não batera nunca…
— Adeus, oh Marques!
Ficara Marques para todo o sempre.
Quando eu o conheci, Marcos morava num terceiro andar de prédio pacífico, numa rua íntima a que o sol, de manhã, iluminando frontarias de casas descaiadas com lojinhas de capelistas e uma pequena farmácia (a Pharmacia Sylvano), dava aspetos de rua provincial, provincialmente calma. Ele era casado, empregado da Administração, morrera‑lhe uma filha de cinco anos e vivia decentemente.
Mas ao tempo do nosso conhecimento já a vida de Marcos ia no cabo de uma estranha peregrinação; (...)
Capítulo I, p. 13

A novela de Afonso Lopes Vieira, sua única obra de ficção, impressionou‑me pelo rigor da representação de diversos problemas sociais que fervilhavam então nas sociedades portuguesa e europeia: o crescimento das grandes cidades, a miséria das novas classes de pobres; a influência do anarquismo; a inadaptação dos indivíduos às novas condições da vida urbana; a irreligiosidade e suas consequências para os indivíduos nessa nova solidão.
«Marques» é um catálogo de questões marcantes na sociedade do tempo e da reflexão a seu respeito — a miséria social e moral, a anomia, a separação social, a dor, a cidade enquanto metropolis devoradora dos seus filhos, o sonho e a utopia de vidas melhores (...).Afonso Lopes Vieira
Eduardo Cintra Torres in Prefácio
«Marques» (História dum perseguido)
Org. de Eduardo Cintra Torres. Estudos de Eduardo Cintra Torres e Cristina Nobre
Coleção Biblioteca de Autores Portugueses
2.ª edição. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2016
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